sexta-feira, 14 de maio de 2010

Não.

Se a gente juntar com a pá migalhas e farelos, o pó e os cacos que sobraram de nós dois, acho que faz um inteiro. Será que não? E aí? Que tal? Vamos? Como soa dividir comigo essa existência idiotamente ridícula, morna, real, estúpida, bagaceira e imbecil? Vamos fazer diferente, como ninguém mais sabe fazer, só nós? Diz que vamos, vai.

Não? É tudo que precisa pra começar a me conquistar. Digo que não com os olhos cheios de esperança. Com duzentos "nãos" você constrói um castelo, uma roda gigante, uma cabaninha de lençol na sala, um altar, um amor, um sim bem grande. Com um sim entre você e eu, me rouba inteira e metade da felicidade do mundo. Digo que não, ponho uma meta no seu colo, tipo num processo de seleção feminina só pra você provar que é o cara.

Isso, faço assim. Me faço de labirinto quando você se oferece em linha reta. Digo que metade de você, a parte amigo, tá bom, só pra te empurrar inteiro coração adentro, goela abaixo, com toda a calma do mundo. Isso, faço assim. Dou voltas e voltas e voltas na chave da minha emoção só pra você se exibir que pode me desarmar, desarrumar minha vida e meus cabelos. Embora você não me ame ainda, mesmo o amor não existindo, digo não e te encorajo a pôr tudo à prova.

Finjirei não te querer, disfarçarei o brilho no olhar, esconderei o sorriso atrás dos cabelos, ganharei torcicolo de tanto cuidar o outro lado, mostrarei o cofrinho se abaixando quando você passar rasando, ficarei o tempo todo pensando no jeito infalível de ganhar o Oscar de melhor "tô nem aí". Te acharei chato se me procurar, te acharei o homem da minha vida se você sumir, te verei feio do meu lado, te verei lindo do lado das outras. Vou dizer trocentas vezes pro espelho da minha bolsa que és o cara mais idiota, mais engraçado, mais fajuto, mais encantador que eu fingi não gostar.

Perfeito assim. Fosse sem esses enigmas, sem esses rodeios, sem esses movimentos, sem esses contrastes você me rejeitaria como todas as outras. Vou assim como uma onda que não se congela pra você pegar.

Inspirado no texto "Inspirado no cheiro da sua mão", de Gabito Nunes. @CarasComoEu

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